sábado, 23 de outubro de 2010

Recomeço

Não sou de me queixar, se me conhece provavelmente você sabe disso. Mas a verdade é que meu retorno à guilda não foi nada agradável. Também não quero que me entenda mal, não estou culpando a presença de novos integrantes ou a ausência da Grã Mestra, que atualmente se encontra em uma missão de “descanso”. Não, eu sou o único culpado de meu próprio desgosto.

Estou longe de ser um bom mercenário, todos naquele lugar sabem disso. Matar não é exatamente algo que eu goste de fazer. Devo admitir que com o meu “dom”, é uma tarefa um tanto quanto fácil. Ainda assim, a quantidade de moedas de ouro que acumulo a cada missão, parece cada vez menor, em outras palavras a própria recompensa (a melhor parte de ser um mercenário) parece não valer mais a pena.

Se essas palavras estivessem em uma carta eu provavelmente terminaria por aqui, mas não é o caso. O pedaço mais próximo de pergaminho está a quilômetros daqui, e esses pensamentos logo se perderam e eu nunca terei a chance de registrá-los... que coisa estúpida de se pensar afinal.

Foco, Oliver. O alvo está bem a sua frente. Graças a deusa pensamentos não comprometem camuflagens, e a sua ainda está bem segura. Esse galpão é distante e pouco freqüentado, ninguém ouvira os sons da batalha. Tudo bem. Agora Ele está próximo o suficiente, pode se levantar e caminhar até o alvo.

Contato visual, bem a tempo. Está se preparando para reagir... O que enfrentarei dessa vez? Um soldado ? Um feiticeiro? Um servo dos deuses ?

...

Certo. Esse golpe passou bem perto. Ele têm um bom equilíbrio, empunhou a espada e o escudo em menos de dois segundos, definitivamente um guerreiro. Vou precisar de mais dois ou três ataques pra entender como ele luta. Aí vem o segundo, corte de cima para baixo em diagonal, cliché. Dou um passo para trás, estou salvo e propositalmente desprotegido, quero receber o terceiro golpe.

Argh!! Uma cabeçada? O que é isso? Estou enfrentando um Bárbaro? Tudo bem... Doeu um pouco mas agora já sei do que ele é feito. Balanço, força e agressividade. Habilidades fáceis de se reproduzir. Minha vez. Passo para frente, meu golpe é desferido ao mesmo tempo em que saco minha própria espada, de baixo pra cima em diagonal. Meu inimigo não entende nada, a um segundo atras ele poderia jurar que eu era uma presa fácil, e agora me mostro como um adversário a sua altura. Ele ainda não sabe, mas o destino do coitado já esta traçado.

Eu tinha certeza de que o golpe seria evitado, meu oponente se esquivou como eu me esquivei, deu um passo para trás, um erro fatal. Minha própria cabeçada acertou-lhe de um modo feroz e impiedoso. Ele ainda não entendia o que estava acontecendo. Em segundos me tornei uma máquina de combate. Chute, soco, corte, corte, corte. Agora eu era muito mais balanço, força e agressividade do que a minha próxima vítima jamais seria.

...

No final, restavam-lhe apenas duas costelas intactas, um escudo despedaçado e uma espada pela metade. Samuel Handfor. Acredito que esse era o nome dele, um contrabandista de armas, que ameaçava os interesses da coroa real de Helen. Não poderia mais viver.

E não viveu.

Morreu com Ébano, minha espada negra, encravada bem no meio de seu estômago. Uma morte limpa, para um oponente sujo e corrupto. Ele nunca saberia o porque de sua derrota. Nunca entenderia o meu dom de “Copiar” as habilidades daqueles que enfrento. Jamais se daria conta de que seu algoz, foi um mímico atormentado, sem sua própria vocação, que apenas fazia imitar. Não havia criatividade.

Um espelho com vida, um artista do vazio...

Pela deusa, Oliver... Foco! Missão completa. Retorne à guilda, pegue o ouro e pare de tagarelar com a sua mente. teste